domingo, 20 de maio de 2012

QUANDO O HOMEM QUER SER DEUS


                                                                       "Quanto maior o poder, mais perigoso é o abuso.”
(Edmund Burke, s.d.)

O século XXI é o tempo de grande expansão e globalização tecnológica. Se no século passado o planeta passou por duas guerras mundiais, descoberta de energia nuclear e Guerra Fria, agora assistimos a enorme comercialização e aplicação de altas tecnologias. Computadores portáteis da espessura de um livro, turismo espacial, engenharia genética e Large Hadron Collaider não são mais que a realidade do quotidiano que vemos todos os dias ao nosso lado e nos mass-media. Todos estes avanços científicos e tecnológicos estão integrados na nossa vida - abrem novos horizontes e fornecem novas oportunidades. É o tempo dos investigadores que “Novos mundos ao mundo irão mostrando” (Luís Vaz de Camões). O mundo não é só o que vemos com os nossos olhos, mas é o que as lentes do microscópio e telescópio, as câmaras de vídeo, os computadores e as sondas espaciais nos permitem ver. Do ponto de vista epistemológico, o Universo expandiu-se colossalmente – estende-se do átomo até às galáxias distantes, da célula à biosfera, do microprocessador até ao space shuttle.
Neste novo “habitat” o Homem tem oportunidade de intervir em processos naturais e reproduzi-los in vitro ou in silico. No entanto, entre as outras descobertas científicas destacam-se duas que são cruciais para a humanidade: a descoberta do poder do átomo (a energia nuclear) e do ADN, “molécula-base” da vida, por James Watson e Francis Crick. Esta última talvez seja de maior importância porque não é apenas um instrumento de destruição, como uma arma atómica, mas de criação e manipulação da vida. Nestas condições surgiu a Engenharia Genética, que estuda o nível fundamental da organização dos seres vivos, o conjunto de moléculas que determinam morfologia e fisiologia de qualquer organismo.
Hoje em dia é frequente ver notícias sobre avanços de genética. Ninguém fica surpreendido quando os cientistas mostram ao grande público os últimos resultados das suas experiências, como é o caso da famosa ovelha Dolly ou do milho transgénico. Na realidade já é possível clonar cães, gatos e outros animais. No futuro mais próximo podem surgir clones de animais que foram extintos na Natureza, por exemplo, mamutes. Ao nível de genética terapêutica existem laboratórios que estudam as doenças genéticas do ser humano e fazem análises de ADN até de seres humanos que estão no estádio mais básico da sua existência e existem apenas como embriões nas placas de Petri. As possibilidades da genética são espantosas, dá-nos o poder sobre a vida, tornando-nos quasi deuses, mestres do mundo material capazes de manipular os seres vivos e as suas características.
Desta forma, os avanços da Genética fornecem conhecimentos importantíssimos que se aplicam na medicina. O diagnóstico e o tratamento das doenças são facilitados, podemos detectar as mutações perigosas mais cedo e reprimir a expressão de gene com fármacos, melhorando significativamente a qualidade de vida de pessoas. Todavia, a engenharia genética levanta grande polémica entre especialistas, pessoas religiosas e cidadãos comuns, pois implica a intervenção no genoma e nos processos que determinam a nossa existência e individualidade. Há também questões muito controversas, como a clonagem reprodutiva do ser humano e eugénia, selecção genética de seres humanos.
Pois, quanto maior é o poder, maior é a tentação. O Homem consegue manipular as características de plantas e animais, criar novas espécies, os chamados organismos geneticamente modificados, melhorando as características dos mesmos. No entanto, como qualquer ser ambicioso e limitado pela sua ignorância, o ser humano não perde a oportunidade de tentar enganar as leis naturais e corrigir os erros da Natureza. Assim, graças aos avanços científicos, em 2009 nasceu a primeira bebé britânica seleccionada para não carregar um dos genes que predispõe o desenvolvimento do cancro da mama e do útero. O caso é exemplificativo e controverso do ponto de vista ético, pois a futura criança tinha uma elevada probabilidade de sofrer de cancro da mama ou do cancro do útero e por isso os pais recorreram a selecção genética dos embriões durante a fertilização in vitro. Este acontecimento levou a uma grande polémica na sociedade ocidental. A Igreja católica considera a selecção genética uma acção “grave e ilícita” e os defensores do método sustentam que os futuros bebes têm uma vida mais saudável, ficando privados do sofrimento que as patologias genéticas causam.
De facto a Igreja nunca aceitou qualquer tipo de intervenção genética com o fim de alterar os processos naturais, isto é, a clonagem, engenharia genética e selecção genética são considerados actos imorais e que violam o direito sagrado de cada ser humano, a vida e a individualidade e põem em causa a vontade divina. Do ponto de vista da Igreja, a selecção genética dos embriões que não apresentam genes que provocam o desenvolvimento de uma doença é uma atitude tão grave como o aborto e a eutanásia, pois provocam a morte de um ser humano inocente. Os embriões nos primeiros estádios do seu desenvolvimento passam por um diagnóstico genético durante o qual são evidenciados os genes malignos, o embrião que não é portador destes genes é seleccionado para a implantação para o útero da mulher e os restantes são eliminados. A religião católica não só o caracteriza como um homicídio, mas também aponta para que o Homem assume o papel de Deus, escolhendo entre dar vida ou retirá-la.
Em contrapartida, temos a posição dos que defendem que o novo ser humano será mais saudável. Obviamente, é indiscutível que as pessoas saudáveis são normalmente mais felizes, uma vez que as suas famílias não têm de enfrentar a terrível luta contra uma doença grave e mortal. É uma posição tipicamente utilitarista, quando o eticamente correcto é o que evita maior sofrimento e causa maior felicidade. A questão fundamental é se a selecção genética é uma ferramenta segura e se podemos confiar no ser humano, capaz de errar e quebrar as regras éticas.
Realmente, com a engenharia genética é possível examinar todo o genoma e escolher o sexo, a cor dos olhos ou a sua estatura. Se esquecermos as normas éticas podemos modelar completamente o aspecto dos nossos futuros filhos, criar em laboratório gerações sem defeitos físicos e doenças. Hoje, como nunca antes, estamos perto do sonho de Hitler - a criação de uma raça perfeita. Contudo, os genes não determinam tudo, não há garantia de que o mais perfeito dos embriões será um campeão olímpico ou génio, tal como não podemos programar a bondade e a piedade nos seres humanos. Estas qualidades não se cultivam em proveta!
De facto, “de boas intenções está o Inferno cheio”. Quem age a pensar num bem universal para toda a humanidade pode fornecer uma arma horrível aos seres humanos mais corrompidos pelo poder e, neste caso, o feitiço vira-se contra o feiticeiro. A engenharia genética é apenas uma ferramenta poderosa, obra do génio humano, e tal como qualquer instrumento, pode ser usada para o bem ou para o mal. Como o bisturi é uma arma mortal nas mãos do criminoso e salva vidas nas mãos do cirurgião. Os objectos e o conhecimento só por si não possuem nenhum valor moral, apenas as acções humanas são contabilizadas pela ética. O perigo está na própria natureza do Homem, ser mortal e ignorante, vulnerável às tentações deste mundo. Infelizmente, não há maior tentação do que o Poder.
Já o antigo Sófocles afirmara - “O poder revela o homem.”. Raros são os homens que por natureza são determinados, capazes de resistir ao poder. A maioria abusa do poder a seu favor, e quanto maior é o poder, maior é o abuso. É a natureza do ser humano, o desejo de poder está em nós como em qualquer animal colectivo. Nos leões, nos lobos e nos homens reinam os mesmos instintos, pois somos mais animais do pensamos e a parte racional da nossa mente é menor do que podemos imaginar. Os exemplos são abundantes - os ditadores, os políticos corruptos, as companhias multinacionais que exploram terras dos países em desenvolvimento e ganham o dinheiro do trabalho infantil, até os maridos que praticam violência doméstica, todos são pessoas que abusam do poder. O mais forte, que tem o poder sobre os mais fracos e os mais vulneráveis, pode ser corrompido pela sensação da sua soberania e omnipotência, tornando-se egoísta e desvalorizando a integridade e a individualidade dos outros. O ser humano, quando não condicionado pelo contrato social, pelas normas morais e leis, inferioriza os mais frágeis. O poder é o vinho – o vício que releva os nossos instintos animalescos, e tal como o ópio, encanta-nos e transforma o mundo à nossa volta num jogo onde as vidas humanas são apenas peças do jogo sobre as quais temos um controlo total. É uma forma efémera de realizar os nossos próprios desejos, de nos tornarmos deuses e provarmos a nos próprios que somos mais do que seres mortais cuja existência é insignificante e inútil à escala do Universo. Elevar-se sobre os outros é uma prova de existência a nós próprios e uma expressão da vontade eterna do Homem de atingir a perfeição, algo divino.
Em suma, a selecção genética pode ser uma prática amoral, pois pode ser uma tentativa terrível de o ser humano se igualar a Deus. O conhecimento é poder na sua essência e um cientista sapiente pode ser mais perigoso do que um ditador. Quando os pais recorrem à selecção de embriões, parece uma atitude egoísta; evidentemente, eles valorizam mais os seus desejos do que a vida de um ser humano. O mesmo ocorre quando o Governo autoriza o aborto selectivo ou a selecção genética ao nível institucional, pois parece evidente que o Estado persegue o interesse económico – afinal uma população mais saudável é favorável para o desenvolvimento de qualquer país. Assim, parece que é um acto de egoísmo, individual e colectivo. O perigo surge quando a selecção de embriões não é determinada pelas razões meramente médicas mas sim pelos desejos egoístas de quem manipula os seus genes.
Ainda parece aceitável prevenir o sofrimento de um ser humano e dos seus familiares se a probabilidade de aparecimento de uma doença grave e sem cura for muito elevada. A decisão é dos pais e dos médicos, mas esta atitude só pode ser tomada nos casos extremos, caso contrário corremos o risco de discriminação de seres humanos por serem de um dos sexos ou por terem determinadas características, como a cor dos olhos. Será a discriminação dos mais fracos, que não podem protestar e que são excluídos a priori, ainda antes de vir para este mundo. Assim, a selecção genética tem de ter limites e, por sua vez, devem existir leis que asseguram todos os direitos humanos tendo em conta o desenvolvimento da engenharia genética.
Este é apenas um dos problemas da imparável evolução da ciência e da tecnologia, que levam ao aparecimento de novas oportunidades e, infelizmente, novos crimes. Muitas vezes, a humanidade ultrapassa o limite da ética quando persegue objectivos económicos ou científicos. O bom senso não funciona quando aparece a oportunidade de fazer papel de Deus. Com o nosso desenvolvimento científico elaboramos meios para criar a vida e destruir planetas – aproximamo-nos do potencial de um ser divino. No entanto, este super-homem sonhado por Nietzsche pode tornar-se um animal cruel, desprovido de qualquer princípio moral, se não encontrar uma simbiose para a dicotomia existente entre o poder e a ética.
O ser humano assemelha-se ao demiurgo, uma entidade criadora do mundo material, que possui sabedoria imperfeita. No entanto, seria pouco sensato pensar que um ser imperfeito não irá cometer erros. Jogamos no jogo de Deus com a ambição de não cair no abismo.
Pseudónimo: Belerofonte

domingo, 19 de fevereiro de 2012

"Omnisciência" do Google

Na escola, na universidade, no trabalho ou em casa, qualquer cidadão com acesso à Internet usa o Google como uma ferramenta para encontrar informação, é um facto. É o maior motor de busca e  a forma mais eficaz de obter informação. Também são factos...
Qualquer um de nós sabe que existe um perigo em cairmos na tentação de limitarmos o nosso conhecimento e paradigma pelas informação que nós são fornecidas, sem as desenvolver, analisar ou criticar. Não quero dizer ao leitor num tom pedagógico que devemos ter a capacidade crítica, é evidente. Mas as coisas evidentes são frequentemente ignoradas, porque são tão banais que não merecem a nossa atenção...
No fundo, Google não é um organismo computacional inteligente, é apenas um conjunto de algoritmos eficazes e potentes. Não há nada de novo, ou seja, criativo. O motor de pesquisa só fornece-nos as informações já existentes. É por isso que o ser humano ainda tem emprego e não é possível substitui-lo por uma máquina.
Deste modo, Google não fornece novas ideias, cabe a nós cria-las.

"It´s Alive" (sobre o blog)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Uma nova ameaça ao jornalismo: Nova tecnologia compõe textos sem intervenção humana

Um novo software desenvolvido pela empresa norte-americana Narrative Science é capaz de transformar dados brutos em textos gramaticalmente correctos, sem autoria nem edição humana. 
Desenvolvido ao longo de dez anos, o programa foi inicialmente concebido para a informação desportiva, mas está já a expandir o seu mercado. O portal «Big Ten Network» usa este software para distribuir sumários dos jogos assim que terminam. O primeiro texto, ou “história”, como diz a empresa, automaticamente gerado descrevia um jogo de basebol da equipa Northwestern Wildcats. 
 Lançada formalmente no início de 2010 e com sede em Chicago, a Narrative Science desenvolveu uma tecnologia avançada que permite transformar “informação em conteúdos editoriais de alta qualidade”, dizem na sua página oficial. O software é capaz de escrever artigos novos em tempo real a partir de informação em bruto, seja numérica ou textual, estruturada ou não. Relatórios financeiros, informação imobiliária e sondagens podem também ser usados para gerar artigos legíveis em apenas alguns segundos. 
 A empresa norte-americana está agora a trabalhar com 20 empresas, não só na produção de relatos desportivos mas também de artigos para jornais de medicina.

2011-09-13

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O CERN não anda à ‘caça dos gambozinos’ (Físico teórico John Ellis em entrevista ao «Ciência Hoje»)


John Ellis é um dos físicos teóricos mais reputados do globo. Veio da Universidade de Cambridge e, após ter estado uns anos nos Estados Unidos, já está na Organização Europeia para a Física de Partículas (CERN) desde 1973. Poderemos dizer que algumas das grandes teorias da Física lhe foram atribuídas e parte das experiências a decorrer no Laboratório de Física de Partículas têm ‘dedo’ seu.

 As suas actividades são bastante abrangentes mas é especialmente conhecido por ter ajudado Dimitri Nanopoulos a unificar a «Teoria das cordas», com o modelo padrão, por ter inventado o «Diagrama Pinguim» (um tipo de diagrama de Feynman) e ter criado a «Teoria do Todo» (ToE – Theory of Everything).

 Para o físico britânico, o Grande Colisor de Hadrões (LHC) do CERN é como se fosse “o maior microscópio já construído” e, com ele, os cientistas vão poder examinar partículas de matéria e talvez conseguir “reproduzir o início do universo” e explicá-lo. Com os seus colegas do CERN trabalha actualmente na experiência ATLAS – uma das maiores do LHC.
Ciência Hoje (C.H.): Em que tipo de projectos está actualmente envolvido no CERN?
John Ellis (J.E.): Bem... Sou físico teórico e, sendo assim, desenvolvo teorias para as experiências, ou seja, alguns dos projectos a decorrer actualmente no CERN tentam atestar essas ideias. Algumas das teorias preditas já foram aqui corroboradas. Neste momento, colaboro na experiência ATLAS mas não faço experiências eu próprio, apenas dou sugestões.

C.H: É considerado um dos maiores físicos teóricos do mundo. O que fez para conseguir tal lugar no planeta?
 J.E.: Não sei bem, na verdade (risos)! Durante a minha carreira houve vários acontecimentos na área da Física que abriram novos horizontes – isto voltando aos anos 1970 –, mas o LHC abriu portas a um mundo completamente diferente. Costumo dizer que sempre tive muita sorte por estar no sítio certo, na hora certa. Propus algumas ideias, tais como procurarem o Bosão de Higgs, sugeri a forma de encontrar os gluões e que os quarks estariam na constituição da matéria nuclear, publiquei trabalhos sobre as diferenças entre matéria e anti-matéria, fui uma das primeiras pessoas a explorar a relação entre física de partículas e cosmologia e a natureza da matéria negra. Devo dizer que, durante os últimos 30 anos, a Física de Partículas encontrou modelos mais constantes e estou contente por ter estado entre os que ajudaram a que isto acontecesse.


Cientista responsável por ter desenvolvido a «Teoria do Todo».
C.H.: Existem imensas suposições, tal como a possibilidade de encontrar o Bóson de Higgs, a partícula que poderá explicar a origem do universo, mas não se sabe se existe. Há ainda o CAST, uma secção que se dedica à procura dos axiões, partículas que também não se sabe se existem, apenas se supõe que estejam retidas no interior do sol. O CERN é uma estrutura imensa, cujas experiências englobam milhares de pessoas, verbas, tempo e tecnologia. Não será um investimento demasiado grande para caçar gambozinos?
 J.E.: Não trabalhamos apenas em teorias… (risos) As pessoas desenvolvem diferentes projectos e só aqui quase dez mil cientistas de todo o mundo participam nessas experiências, para além de contarmos com o apoio de grandes universidades, como o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), entre outras. Se pensarmos que existem sete mil milhões de pessoas no planeta e algumas centenas se dedicam à Física fundamental, isto é uma pessoa num milhão, não é muito para descobrir a natureza, de que é feita a matéria, como o universo se tornou naquilo que vemos, etc. A Física estuda o universo, mas pelo caminho trouxemos inovação, desenvolvemos novas tecnologias. Por exemplo, a World Wide Web foi criada aqui… Há 29 anos não podíamos partilhar dados e, depois disso, revolucionámos a economia mundial. Ajudamos a melhorar tecnologias em Medicina com efeitos directos na saúde… Podemos esperar que o LHC nos faculte uma resposta mas não sabemos qual será.

 C.H.: O que o entusiasma mais na Física?
 J.E.: Não sabemos se algumas das teorias estão certas ou não, mas uma das coisas mais excitantes do LHC é podermos descobrir se as grandes ideias que giram em torno do modelo padrão estão certas ou não.


C.H.: Algumas das suas teorias estão aplicadas em projectos a decorrer, neste momento, em pleno CERN. Fale-me um pouco delas.
 J.E.: A experiência ATLAS e a CMS são duas das maiores que se dedicam a procurar o Bosão de Higgs, a simetria e talvez a matéria negra. O ‘paper’ que estou a escrever neste momento, com alguns colegas, interpreta alguns dados do software que analisa o LHC e a sua simetria.

C.H.: O LHCb dedica-se à procura da anti-matéria. Por que lhe conferem tanta importância?
 J.E.: A existência da anti-matéria foi ‘teoricamente predita’ no início dos anos 20 e muito depois foi encontrada nos raios cósmicos. Desde então, tem sido um instrumento para chegar a diferentes respostas, inclusivamente, na medicina. Por exemplo, em técnicas de diagnóstico médico, através de tomografias, a emissão de positrões é baseada em partículas de anti-matéria mas é também usada em ciência material e tornou-se mesmo uma parte do nosso dia-a-dia. A anti-matéria será exactamente como a matéria, mas oposta a esta. Terá a mesma massa com carga oposta e comportam-se de forma diferente e o objectivo do LHCb é compreendê-la melhor.

C.H.: O que aconteceriam se matéria e anti-matéria voltassem a existir nas mesmas quantidades?
J.E.: Caso isto acontecesse veríamos partículas de matéria e anti-matéria a colidirem de forma a produzirem energia. Se, por exemplo, a Lua fosse feita de anti-matéria, explodiria, sim. Portanto, a Lua não é feita de anti-matéria.

CH.: E caso o LHC negue algumas das teorias já assumidas como verdadeiras…?
 J.E.: Precisamos de algumas pistas para nos dirigirmos sem seguirmos o modelo padrão e o LHC poderá refutar ou confirmar algumas. Muitos colegas nossos têm ideias potencialmente interessantes. Por exemplo, alguns pensam que o Bosão de Higgs pode ser recriado em espaço extra-dimensional... Seria interessante... Não sei... Talvez....



2011-09-12
Por Marlene Moura (Texto e Fotos) em Genebra com o apoio da Ciência Viva

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

CERN fala português durante uma semana (Programa para professores e alunos em Genebra)

O maior laboratório de partículas do mundo, localizado na região noroeste de Genebra, na fronteira Franco-Suíça, é uma das instituições mais internacionais a nível mundial, onde passam diariamente pelo menos sete mil pessoas de diferentes países, entre visitantes, palestrantes e investigadores residentes e colaboradores. As línguas faladas são as mais variadas; no entanto, durante esta semana, o CERN fala maioritariamente em português nos espaços comuns – já que acolhe a 5ª edição da Escola de Professores no CERN em Língua Portuguesa, onde se encontram docentes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), da área das Ciências Físico-Químicas – uma iniciativa sob a chancela do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), que no final procede à avaliação e certificação dos formandos. O privilegiado programa é constituído por palestras feitas por investigadores a trabalhar nesta Organização Europeia para a Investigação Nuclear – que a uma dada altura passou a chamar-se Organização Europeia para a Física de Partículas –, e por visitas guiadas aos vários aspectos da estrutura (experiências e aceleradores). A língua de trabalho é sempre o português, sendo os professores acompanhados por investigadores do nosso país. Fátima Vieira é do Porto e professora na Maia; salientou ao «Ciência Hoje» que esta é “uma oportunidade única para saber um pouco mais sobre Física de Partículas, no lugar onde tudo acontece”. CPLP no CERN Inicialmente, o programa da Escola de Professores no CERN em Língua Portuguesa era apenas dirigido a docentes do nosso país. O repto foi lançado por Gaspar Barreira, presidente do LIP, em 2007 e bem aceite. Em 2008, já integrou brasileiros e moçambicanos. Sendo o presidente do LIP, ainda responsável pela UNESCO para a Física de Partículas, uma das suas preocupações foi abrir o CERN aos países subdesenvolvidos e, hoje já acolhe angolanos, são-tomenses, e um timorense (nesta edição). Em 2009, o CERN integrou um grupo mais vasto, após certificar-se que não lesaria nenhum dos estados-membros (22 actualmente). Aliás, Pedro Abreu, investigador do grande ‘agregador’ português de Física Experimental (LIP), que acompanha estreitamente as experiências do CERN e funciona ainda como conselheiro – referiu ao Ciência Hoje que os três principais objectivos deste programa são “actualizar os professores no âmbito destas áreas científicas, no local onde as experiências se fazem; desmistificar o CERN enquanto instituição europeia e mostrar que é acessível, até mesmo aos alunos que queiram seguir carreira de investigação e estabelecer o contacto entre cientistas e professores”, de forma a que estes levem informação refrescada aos alunos. 
 Os participantes no programa são rigorosamente seleccionados sob avaliação curricular – sendo prioritários aqueles que estão ligados à Física de partículas ou Nuclear. Por exemplo, um docente com interesse por Biologia não se define como público-alvo. Por ano, podem concorrer 200 pessoas, mas apenas 40 irão ao CERN. O conteúdo programático é da responsabilidade do LIP e o projecto é inteiramente financiado pela Ciência Viva. Quem se candidatar pela segunda vez é por norma excluído. No entanto, poderá participar noutros programas e até trazer alunos, se o entender. Neste caso, os custos por participante poderão variar entre os 250 e 500 euros. Equipa vencedora de Aveiro no CERN Impulsos no CERN A este grupo, mas apenas nas visitas e algumas palestras, juntam-se os alunos vencedores, da Escola Secundária c/ 3.º CEB Dr. Mário Sacramento (Aveiro), do concurso «Se eu fosse Cientista…», organizado pelo «Ciência Hoje» e pela Ciênvia Viva. A equipa de Aveiro, chamada de ‘Impulsos’, constituída por Marta Canha, Mário Ferreira e Miguel Ferreira (com a colaboração de João Neves e Yuriy Muryn) e acompanhada pelo professor Sérgio Ramos, ganhou uma viagem ao CERN, em Genebra, com um trabalho sobre a vida de Egas Moniz. Os estudantes, agora com o pé na universidade, divididos entre Medicina e Ciências Farmacêuticas, são visivelmente um grupo que se distingue pelo seu interesse nas ciências e vida académica. Aliás, um deles, Miguel Ferreira, preferiu preterir do passeio para não perder os primeiros dias na nova instituição de ensino. Entretanto, os restantes vivem o momento com entusiasmo e chegaram a fazer um diário de viagem, que vão actualizando. Esta semana, o laboratório de partículas acolheu ainda uma escolha da Covilhã.

2011-09-07
Por Marlene Moura em Genebra com o apoio da Ciência Viva

Fonte:  http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=50805&op=all

sábado, 3 de setembro de 2011

Cientistas conseguem detectar precocemente tempestades solares

Estudo publicado na «Science» apresenta dados das missões Stereo e Soho 

 As observações realizadas pelas missões solares Soho e Stereo, da agência espacial norte-americana NASA, revelaram novos dados que ajudarão a conhecer melhor a evolução das tempestades solares. Esse fenómeno pode danificar satélites e provocar falhas nas comunicações. Cientistas da Universidade de Stanford (Califórnia) desenharam um novo método para detectar a chamada ‘ejecção de massa coronal’, que provoca as auroras boreais mas também a interrupção das comunicações. As erupções solares emergem do interior da estrela, explodem na sua superfície e lançam uma bolha de plasma que provoca uma onda e se expande através do sistema solar. A existência dessas erupções está documentada mas os cientistas continuam a estudar como detectá-las antes que se formem para poderem evitar as suas consequências. Para além de serem perigosas para as comunicações, podendo provocar apagões na Terra, são também um perigo para os astronautas que estão no espaço. Os dados do Observatório Solar e Heliosférico SOHO, uma missão conjunta da e da Agência Espacial Europeia ESA, foram analisados pela equipa de Stathis Ilonidis. Neles, detectaram-se sinais da formação de manchas solares emergentes antes de chegarem à superfície do sol. O estudo publicado na revista «Science» indica que os campos magnéticos emergem de 0,3 a 0,6 quilómetros por segundo e provocam manchas solares um ou dois dias depois de serem inicialmente detectadas. Foram também apresentadas novas imagens captadas pelas naves gémeas STEREO, lançadas em 2006 para aperfeiçoarem a capacidade de prever tempestades solares. A sua nitidez vai melhorar a capacidade de observação e estabelecer novos modelos de previsão.


 2011-08-22